Archive for fevereiro 2019

A Confusão Que Sou

O corpo é dividido em duas partes.
Os pés, fincados no chão. Razão.
A cabeça flutuando pelos ares, sem amarras.
Espírito livre. Mutável.
Que se permite ser, por que, antes de ser de fato tem-se que pensar.
E repensar.

De todas as partes, a que mais oscila é o coração.
Ora se permite voar.
Ora se impede.

Milhares de pessoas opostas vivendo nela.
Um pouco de tudo que há
E uma linha invisível que une toda essa confusão.

Viajante oscilando em extremos.

(Escrito em 01/06/18)

Amor

Está ali, o tempo todo.
Nos silêncios,
Nas palavras,
Na presença,
Nos momentos
E na distância.
Olhos aguçados conseguem ver suas cores a flutuar.
Sua aura reluzente,
Transcendente.
Involuntário,
Instintivo.
Não se pede.
Não se cria.
Apenas é.

Laços do acaso.

Esse emaranhado de vidas que se encontram
Vidas que se unem
Se entrelaçam
Partilham
Compartilham
Deixam um pouco de si
Levam um pouco do outro
Que se une com o que já há dentro
Muta
Transmuta
E o emaranhado cada vez mais embolado
E o "eu" que no final das contas
Se torna a junção de todos esses laços do acaso.

One year

E, no momento em que sua memória vagou por aquela recoração
Sua alma pôs se do avesso pra assumir, então, o lado certo
E, num ímpeto, se abraçou
Consolou a si
E permitiu-se ser quem era
E as águas inundaram-na
A tornando rio enfim.

(Escrito em 22-10-18)

Mãe

Foi procurar alento no céu, como sempre fez.
Surpreendeu-se: o céu também a notara ali,
Iluminando-se de imediato e se mostrando de uma nova maneira pra menina.

E assim, o que era tudo tornou-se nada.
E, longe dos olhos de todos, algo acontecia dentro dela.

A chama, antes fraca, reacendia.
Era azul.

"Confio no curso das águas" - disse pra si.

(Escrito em 03/10/18)

Somos covardes.

A vida e essa porção de coisas não ditas e não sentidas por medo.
Cala-se os lábios. Cala-se o espírito.
E amanhã a gente nem vai estar mais aqui.
E todas essas porções de coisas não ditas e não sentidas, eternamente aterradas dentro dessa existência.
E todas essas porções de coisas não ditas e não sentidas, eternamente fadadas a serem dessa forma.

Até onde o medo te impede?

Em busca de vida.

Andando pelas ruas
Notando os olhos vazios,
Olhos que não veem.

Andando pelas ruas
Em busca de olhos 
Olhos que enxerguem.
Olhos que sintam.

Andando pelas ruas
Procurando por olhos que irão me olhar de volta.

(Escrito em 28/10/18)

Vazar por entre os poros.

Ele sabia que ir pra longe não era a solução, mas foi.
Se surpreendeu quando notou que estava, de fato, sendo a tal solução, talvez estivesse errado - finalmente!
Que bom.
Mas até mesmo as barreiras mais bem construídas tem suas brechas.
E a dele não era tão bem construída assim.
E, numa manhã qualquer, sentiu tudo que havia evitado pensar vazar por entre as brechas.
Vazar por entre os poros.

(Não se pode conter os sentimentos por muito tempo)

Observações pessoais: escrito em minha primeira viagem só, em 21/11/18)

?

É possível que seus olhos saibam mais sobre seus sentimentos do que você?
Porque eles me dizem coisas diferentes dos seus lábios.

Silenciar.

Voar.
Pra um lugar onde os pensamentos não possam ser escutados.
Onde o coração silencie.
Onde os olhos não precisem fingir não enxergar tudo que veem.
Onde possa ser, finalmente, suficiente.
Onde possa ter a chance de ser a chegada enfim;
E não um ponto sem muita importância no caminho.

Voar.
Até alcançar as estrelas.
Até sentir a mente esvaziar.
Aos poucos ver tudo se esvair.
O silêncio prevalecer.
A paz se fazer morada.
E nada mais existir.

Voar pra longe.

(escrito em 18/12/18)