Sobre viver.

Ela estava tão cansada,
Mas não sabia do que.
Aguentava todos os dias fortemente,
E mentia com maestria pra si mesma,
Visto que, nem ela percebia o quão pesado estava as coisas que carregava nos ombros.

Fazia pouco caso dos seus problemas.
Pensava que não eram de nada,
Que não passavam da necessidade que ela tinha pra um drama.

Não chorava todas as noites antes de dormir.
Só fechava os olhos e adormecia.
Procurava não pensar nela,
Nem no resto do mundo.
Pelo menos, nessa hora era assim.

Mas a alma estava carregada demais.
Abarrotada de sentimentos que, por serem tantos, nem ela sabia quais eram.
E foi assim que, no final da noite de um domingo, ela se rendeu.
Despediu-se da sua família e, dentro do seu quarto, teve seu primeiro gesto de fraqueza:
Chorar.

Ela odiava não conseguir segurar suas lágrimas na frente dos outros,
E odiava principalmente por se tornar frágil na frente de quem não daria a mínima.
Mas, quando ela estava sozinha, só ela e ela mesma, ela não chorava.
Porque não pensava.
Por isso, parecia que em qualquer conversa com um estranho seus olhos estariam a ponto de por pra fora tudo que estavam armazenando em demasia.

Fragilidade.
Era o que ela sentia quando tentava engolir as lágrimas para que nenhuma caísse perto dos outros.
Ás vezes era um desconhecido que apenas lhe perguntou as horas.
Ás vezes, apenas um professor de física.
Já estava se tornando comum.

Mas quando ela fechava os olhos no seu quarto, à noite, esquecia.
Esquecia da fragilidade e vivia a vida esquecendo de tudo.
Boa forma de viver.
Pena que o esquecimento é apenas temporário.

Ela chorou no seu quarto, depois de um tempo.
Abraçou suas pernas na guarda da cama fria e chorou, com desespero, sozinha.
E não desejava estar acompanhada.
Mas ás vezes, desejava sim.
Chorava e, como sempre, tentava diminuir seus problemas.
Pensava: mas porquê estou chorando?
E apesar de mil coisas lhe virem à mente, nenhuma delas era grande o suficiente pra tamanho desespero.

Não queria cessar o choro, porque estava sozinha ali.
Mas o desespero invadia ela, pois, quanto mais ela chorava, mais lágrimas tinham pra sair.
E a sensação de alívio que se sentia na infância ao chorar um tempo.... Essa sensação não vinha.

Foi então que a menina resolveu esquecer de novo.
Parou de pensar.
Fingiu que não existia.
Uma lágrima escorria enquanto ela escrevia isso.
Os olhos ainda úmidos.
Mas o choro desesperado havia cessado.
E amanhã... Iria ser mais do mesmo.
Viver como se esse domingo nunca tivesse existido.
Viver esquecendo.

Esquecer pra sobreviver.
Sobre viver.