Um conto um tanto quanto mórbido

Ela estava lá.
Sentiu cada gota do oceano entrar dentro dela, até acabar com o seu ar. Mas não se sentiu morta. Se sentiu viva lá.
Já não era mais gente. Era um corpo, ali, naquela imensidão, afundando junto com aquele navio gigantesco que, lá embaixo, parecia tão pequeno.
Ela sentia que aquilo lhe pertencia. Aquela imensidão azul, aquela música que tocava no seu ouvido mais como um zumbido do que qualquer outra coisa.
Sentia paz ali.
Seu corpo flutuava por dentre os destroços. Ela estava morta. Mas ouvia aquela música tocar ainda, como se a orquestra continuasse mesmo após os dias se passando, e se via naquela proa, olhando pra toda essa imensidão e sentindo uma vontade louca de pular pra saber como era lá embaixo...
Agora ela estava lá.
Estava só, mas não se sentia.
Era se como toda aquela água a completasse.... A tornasse plena.
Eram todos os dias iguais. A mesma calmaria. A mesma orquestra. O mesmo navio. Os mesmos destroços. E assim seria, por toda a eternidade.
E pensar naquilo não a fazia temer, e sim, querer.
Mesmo sabendo que nada mudaria, enfim ela se sentia em paz.
Sempre sentiu que o oceano era parte dela... E agora, de fato era.

Vai em paz.