Sem nome


Sorriu, confiante

E até mesmo por um instante 

Parecia ser real.

Por debaixo da sua pele,

Tudo corta, tudo fere

Tudo sangra, tudo dói.


Apenas uma alma

Perdida, acovardada, 

Sem saber bem o que faz.

Mas por dentro do seu corpo,

Ela implora, feito louco, 

Que finalmente a deixem em paz.


Essa é só mais uma história

Quem escreve sempre chora

Com o coração a palpitar

Esperando o momento

Que levem com o vento

Tudo que não pode curar.


Sem título

Vejo você, 
Sempre longe;
Navegando por outros mares,
Fixado em outros tempos.


Vejo você, 
Sempre longe;
Desejando outros lugares,
Embarcando em outros ventos.


Vejo você, 
Sempre longe;
Com força, segurando o passado
Se tornando cego pelo tempo


Vejo você, 
Sempre longe;
Mas agora eu tomo cuidado,
Aos poucos, retiro o meu barco 
Desse mar tempestuoso que ia,
Esperando pelo dia,
Em que então, 
Enfim, decida
De longe, perto ficar,
E de perto, se permitisse amar.

versinhos fluídos que vieram com o vento

existe uma barreira parece inquebrável que me impede de me ver como sou por dentro o que sinto ardendo o que penso embola o que venço evapora não percebo não noto o que fica é o vazio do não saber o que há por dentro. - inalcaçável menina escorregadia que foge por temer temer o quê? não sabe o que teme só teme quando busca dentro de si respostas apenas se enrosca numa porção de rabiscos emaranhados que pulsam gritam e não se revelam escorregadia inalcançável menina

E só, voou.







Sempre soube que nasceu pra voar só.

Nunca se encaixara nos lugares, ou com os outros pássaros.
Sabia que sua estrada era terrivelmente solitária.
Uma vida sabendo disso: já havia de acostumado e até feito da solidão uma amiga.
Mas, num dia qualquer, como uma brisa fresca e suave, aquelas que bate no rosto em um momento inesperado e tem cheiro de vida, ele apareceu.
“Que lindas asas ele tem!”
Espero um dia ter asas bonitas assim também.”
O céu que ela queria conquistar, ele parecia já conhecer.
E, de repente, o pássaro solitário não quis mais estar só.
Quis acompanhá-lo.

A cada dia seu coração se enchia mais de alegria.
Suas asas começaram a adquirir cores novas, vibrantes e bonitas.
Descobriu coisas que jamais pensou existir.
Sobre si, sobre o mundo.
Descobriu o amor.
Pensava que um dia ele a notaria ali também.
Que um dia veria todas as novas cores de suas asas.
Cores que surgiram por causa dele.

E, num dia em que a brisa era fresca e leve também, tomou coragem e o mostrou.
Mostrou o azul-céu.
O verde cintilante.
O rosa avermelhado.
Amarelo ouro.
Violeta.
Mostrou como suas asas haviam crescido. Se desenvolvido.
Mostrou o quanto queria voar junto com ele.
Suas verdades mais profundas.

O que ela não esperava é que ele era cego. Terrivelmente cego.
De corpo e alma. Por ela.

Vendo que ele não a queria ver, fechou-se em si.
“O que eu fiz de errado?
Por que ele não consegue me enxergar? Voar comigo?”
Sentiu a brisa do dia levar um pedaço dela embora.

Os dias se passaram.
As cores de suas asas eram as mesmas,
Mas não eram mais vibrantes.
Seus olhos escondiam uma desolação.
E quando tentava levantar voo, o pedaço que havia sido arrancado pela brisa latejava.
“Além de voltar a voar só
Terei que voar sem um pedaço de mim?”

E num dia ensolarado viu o pássaro enxergando.
Tinha asas lindas, cores mais brilhantes, e mais desenvolvidas.
Reluzentes o suficiente pra despertar a visão do pássaro novamente. Alguém que valia a pena ser enxergado.

Sentiu-se tola por ter se permitido sentir.
Por ter acreditado que um dia pudesse ser, finalmente, notável.

E, esperando que um dia a mesma brisa que levou embora seu pedaço fosse o devolver
Levantou voo
“Quem nasceu pra ser só, morrerá só”
E só, voou.

A Confusão Que Sou

O corpo é dividido em duas partes.
Os pés, fincados no chão. Razão.
A cabeça flutuando pelos ares, sem amarras.
Espírito livre. Mutável.
Que se permite ser, por que, antes de ser de fato tem-se que pensar.
E repensar.

De todas as partes, a que mais oscila é o coração.
Ora se permite voar.
Ora se impede.

Milhares de pessoas opostas vivendo nela.
Um pouco de tudo que há
E uma linha invisível que une toda essa confusão.

Viajante oscilando em extremos.

(Escrito em 01/06/18)

Amor

Está ali, o tempo todo.
Nos silêncios,
Nas palavras,
Na presença,
Nos momentos
E na distância.
Olhos aguçados conseguem ver suas cores a flutuar.
Sua aura reluzente,
Transcendente.
Involuntário,
Instintivo.
Não se pede.
Não se cria.
Apenas é.

Laços do acaso.

Esse emaranhado de vidas que se encontram
Vidas que se unem
Se entrelaçam
Partilham
Compartilham
Deixam um pouco de si
Levam um pouco do outro
Que se une com o que já há dentro
Muta
Transmuta
E o emaranhado cada vez mais embolado
E o "eu" que no final das contas
Se torna a junção de todos esses laços do acaso.